quinta-feira, 23 de maio de 2013

Esquecemos de olhar a janela que nos reflete?

© Foto de René Burri. Henri Cartier-Bresson, na 5th Avenue. Nova York, 1959.

Identidade.
Conjunto das características próprias e exclusivas de um indivíduo (Dicionário Houaiss).
Seriam a essência de um indivíduo ou somos um compartimento oco a ser preenchido durante a nossa existência? E de que maneira nos (re)conhecemos?
Talvez a essência seja um produto de fábrica; os seus componentes, por sua vez, são construídos por diferentes fatores que, por alguma razão, alteram o certificado de garantia.
Analisando nosso modo de viver, percebo que criamos personagens secretas no inconsciente - alter egos -  que ajudam a nos definir periodicamente. Porém, a velocidade com que mudamos as nossas referências é cada vez mais angustiante, na medida em que recebemos informações de todos os lugares, de todas as formas, sem um aviso prévio das contraindicações desse processo globalizante.
Diante dessa constante mudança de referências, (não posso me referir à sociedade oriental por ser leiga nesse quesito), em relação ao lifestyle da vida ocidental, não são permitidos questionamentos, hesitações, dúvidas. Apenas certezas e respostas, mesmo que não sejam concretas. Não nos permitem experimentar todas as nossas potencialidades, possíveis habilidades que pudessem ser desenvolvidas se houvesse orientação, acompanhamento. E em restritos casos, quando há uma certa ajuda, falta-nos tempo para aprimorar nossas qualidades, identificar nossas deficiências e, por fim, encontrar um caminho de equilíbrio entre essas duas forças.
Em consonância com esse movimento, existem as (malditas) expectativas; de nossos pais, da sociedade, e a pior delas, de nós mesmos. A cobrança exaustiva em vencer, ser o melhor, inovar, ter sucesso, o quanto antes, nos coloca numa situação, muitas vezes, sem saída, sem solução. A nossa identidade se perde nesse processo. Os tais alter egos não servem apenas como referências, mas se tornam deuses inalcançáveis através dos quais só nos resta segui-los e curtir seus passos nos Facebooks, Instagrams, Twitters e outros que virão nessa era.
Viramos apenas espectadores que aplaudem os momentos fotografáveis(?) dessas personalidades?
Onde se perdeu a busca pelos nossos próprios momentos dignos de serem fotografados e aplaudidos por nós mesmos?
É tão fácil nos escondermos atrás de fotos sorridentes, de títulos alcançados, de longos cabelos hidratados, de roupas exclusivas, de estereótipos que acabamos adotando ao longo da autoconstrução. Procuramos nos modelar, definir um grupo ao qual nos encaixamos. E se não me encaixo em lugar nenhum? Ou se me encaixo em diferentes lugares? O mais preocupante é a forma como descobrimos o lugar ao qual pertencemos.
É verdade que observar o outro, se relacionar com diferentes culturas e personalidades é fundamental para qualquer pessoa. Mas, talvez, estamos nos debruçando demais na janela do vizinho pra dar uma olhadinha e até julgar o que se revela em seu interior e esquecemos de olhar com a mesma atenção para dentro de nossa janela.
O (alter)conhecimento impera às custas de um esquecimento inconsciente(?), preferível(?) do (auto)conhecimento.


segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

Are we human? Or are we dancers?

Por Tatiana Callado.

Arquivo Pessoal

O que será que mais nos fascina? O diferente, o inusitado, o exclusivo? Por quê?

Rostos sorrindo, improvisando caretas, com tinta na cara, palavras pelo corpo, riscos aleatórios, transbordando felicidade... Será?
Nós, jovens, cada vez mais, procuramos experiências que marquem nossas vidas para nos autoafirmar com o título de ser um jovem que curte a vida, portanto quanto mais incrível, mais exclusivo, mais diferenciado for o tal momento vivenciado, mais nós seremos reconhecidos e respeitados em nosso cargo, de ser um jovem. As redes sociais contribuem para a valorização desse lifestyle que já se transforma em um fenômeno social impactante na vida daqueles que estão ingressando na vida adulta. De certa forma, há uma corrida armamentista em busca de uma glamourização excessiva da vida social e pessoal, na qual nossas armas representam os Instagrams, os Facebooks e os alvos são os nossos pseudoamigos. Se pensarmos bem, não estou correndo muito risco ao tentar fazer uma analogia com um fato da Guerra Fria, na medida em que vivemos em uma guerra silenciosa, sem que haja um confronto direto, porém nos enfrentamos a cada foto que publicamos, a cada frase que postamos, em busca de míseros corações ou curtidas que, aparentemente, representam  a nossa aceitação mediante a sociedade, que nos valida como cumpridor do papel de ser jovem. Além disso, não somos simples jovens, somos jovens permanentemente felizes, com mais de mil amigos que nos "amam", com muita grana pra gastar, com muitas festas para aproveitar, com muita sede de viver. Sim, essa última parte é verdade mesmo. Geralmente, nós somos ávidos para vivermos intensamente. No entanto, será que realmente somos aquilo que transmitimos nas redes sociais? Por que precisamos mostrar o quanto somos realizados profissional e pessoalmente, o quanto temos dinheiro para consumir artigos únicos, o quanto somos especiais por frequentar eventos badalados, ou seja, por que procuramos compartilhar inteiramente nossa vida em mundo intocável, virtual, que pouco a pouco começa a sobrepor a realidade? Levantei essa questão no momento em que estava presente numa festa na qual as pessoas precisavam pintar seus rostos para serem reconhecidos em meio à multidão através de uma luz negra. Essa experiência me chamou a atenção, já que pode analogicamente representar a nossa realidade, isto é, precisamos nos pintar nas redes sociais para dizermos que existimos, que curtimos a vida, para que nos reconheçam. O que me intriga é que a luz que nos ilumina, que comprova a nossa existência, é negra. 

quarta-feira, 24 de outubro de 2012

Minhas lições de vida

Por Tatiana Callado.

(desenho feito na aula de espanhol com o tema: "mi mundo interior de hoy")

Há tanto a ser dito que torna difícil exprimir tudo aquilo que senti em tão pouco tempo...

Sim, Hemingway estava certo, Paris é uma festa! E dessa vez não fui de penetra, na verdade fui maravilhosamente bem recebida a cada lugar que se visitava. Partindo do princípio, antes mesmo do avião decolar, eu sentia que essa viagem prometia intensas emoções, eu só não sabia o quanto isso me perturbaria. A nebulosa dúvida da viagem dele nos intrigava a cada instante em que a minha partida se aproximava. A minha carta de quatro páginas ensaiando uma despedida não era suficiente para afagar nossos corações, ao passo que se tornava mais evidente que a separação era inevitável e urgente. E Paris acabou se tornando(?) um refúgio para escapar de tanto sofrimento que certamente me acometeria estando ao lado dele. Foi dessa forma que pensei nos primeiros dias de viagem assim que o veredito havia se confirmado. No dia 6 de outubro de 2012, o sonho da minha mãe e o dele seriam realizados, e eu não conseguia compreender o porquê dessa maldita coincidência em que nós nos metemos. Durante os últimos três anos do nosso relacionamento, essa provável viagem para a Itália nos rodavam como um fantasma adormecido que só estava esperando a hora certa(?) para ser despertado; infelizmente, o seu despertador funcionou em um momento crítico para nós. Até hoje eu carrego esse questionamento: será que nós merecíamos que fosse dessa maneira? Embora tivéssemos   refletido bastante sobre como seria a partida e como poderíamos superar a distância, nada se assemelha ao que sentimos na pele e no coração. E naquela madrugada do dia 6, Paris se tornou uma festa sem sentido, sem gosto, sem alegria; nem o fato de estar num dos lugares mais especiais do mundo me confortou naquela noite; meu corpo foi defender meu coração que tentava sozinho suportar a dor decorrente tanto da minha ausência ao lado dele, quanto da iminente separação, porém ele não suportou e a fragilidade me tomou por completo. Não satisfeito com a peripécia que havia feito, o destino quis atrasar mais um pouco a partida dele, fazendo com que ele viajasse no dia 8, no nosso dia, em que completamos cinco anos e cinco meses. Apesar dessa tristeza que havia se instalado dentro de mim, acredito que tive sorte de estar onde eu estava, afinal quando amanhecia e saía para a rua, eu estava aos pés da magnífica 'Tour Eiffel' que fazia com que aparecesse um sorriso largo no meu rosto, fazendo sumir todos os problemas e as suas dores. Além disso, eu estava imensamente feliz por estar ao lado das pessoas que são fundamentais para mim, vivenciando a realização desse sonho, que era meu também, contudo esse fato permanecia às escuras para mim à medida que a inevitável separação nos bateu à porta. Nesse momento, após ter refletido bastante sobre tudo o que se passou (ainda que não tinha sido o bastante), eu acredito que cada um de nós - seja minha mãe que completou 50 anos no seu lugar preferido, seja minha prima que tenha se casado com seu grande amor, seja ele que tenha viajado a fim de se realizar profissionalmente, seja eu que conheci um dos lugares mais incríveis desse mundo - cada um de nós não só vivenciou o seu sonho, como também se realizou pessoalmente, afinal ninguém pode viver o sonho de outra pessoa. No entanto, nós tornamos possível que cada um se realizasse individualmente, sem deixar de estarmos juntos, sem deixar de compartilharmos os medos, os anseios, os desejos, as conquistas. E esta é a beleza e o aprendizado que tiro dessa intensa experiência que vivi: o amor permite que compartilhemos os nossos sonhos, embora não devemos abrir mão de vivenciá-los individualmente a fim de que nos tornemos quem realmente queremos ser. 

sexta-feira, 21 de setembro de 2012

Os dois lados da moeda

Por Tatiana Callado.



"Puedo escribir los versos mas tristes esta noche..."

Há certos momentos em nossa vida em que palavras não são capazes de definir o que sentimos, a verdade não é dita em voz alta, embora tente escapar de modo desconcertante, ela não pode ser decifrada, deve-se manter um código de segurança máxima para que não seja violada.
Entretanto, 'ao riscar as palavras no papel', princípios de lágrimas escorrem por entre as vogais, que são as mais emotivas, à medida que tento transcrever algo que faça sentido nesse texto descartável.
Tristeza e alegria coexistem no mesmo espaço cardíaco em que se misturam ao passar pelos ventrículos e que inevitavelmente alimentam o sangue ve(ne)noso.
E este é o momento em que me dou conta de que a felicidade - tão desejada - não é tão ingênua assim, nem tão colorida, nem gentil, nem ao menos coerente.
Os dois lados da moeda divergem a todo momento de maneira que se cria uma sensação de angústia e perplexidade do que virá a acontecer após jogá-la para cima e esperar em que lado cairá; a semiologia pode nos ajudar a compreender melhor aquilo que sentimos, através da revelação do sentido oculto das coisas: a coroa seria a felicidade, a vivacidade, a alegria que se ilumina pela grandiosidade do ouro; a cara é a realidade, a bruta realidade omitida inicialmente, porém escancarada assim que a felicidade se esfalece pelo “abrir dos olhos da vida”.

Tenho essa moeda nas minhas mãos.

E o medo de jogá-la me acomete a todo instante em que enfrento essa situação.

quinta-feira, 13 de setembro de 2012

"O tempo não para, não para."

Por Tatiana Callado.





Já dizia o nosso querido Cazuza, verbalizando a mais óbvia e perturbadora das verdades; o tempo da vida não para, a urgência nos persegue, assim como a incerteza e a insegurança de nossas escolhas, como também a inconsistência de nossas atitudes, a fadiga da rotina, a exposição das nossas fraquezas, a (im)possibilidade de construir e descobrir o seu ser. Essas constatações fazem parte de uma série de questionamentos que quase todo ser humano realiza durante a sua existência, cada qual no seu devido momento, como exemplo, a tal crise da meia-idade que geralmente se revela para os quase cinquentões (que minha mãe não leia isso jamais!). A sensação do envelhecer se evidencia de forma tão concreta, capaz de promover reflexões as mais angustiantes possíveis, de tal maneira que você se questiona se é isso mesmo que gostaria de ser, de ter feito, de não ter feito; e se a sua resposta for aquela que tu não gostarias de descobrir, a crise vira de identidade. Como não cheguei nesse estágio da minha existência, desconheço essa angústia desvairada, mas passo a sentir uma sensação de inquietação, que nos meus "um pouco mais de quinze anos" jamais havia percebido, embora agora nos "quase vinte anos" sinto gradativamente, à medida que minhas olheiras se escurecem. Uma crise. Silenciosa, por não se revelar fisicamente. Perturbadora, por se revelar intimamente. Silenciosa crise perturbadora, que se fosse pintada, seria retratada pelo grito mais intrigante de Munch, uma obra-prima em que não se ouve nada, apenas se sente. O paradoxo criado pela liberdade versus responsabilidade cria um vazio dentro de nós que pulsa a todo instante, um vazio que precisa ser completado por que a sociedade (não) pede, nos obriga a preenchê-lo, mas de quê? É analogicamente como preencher um daqueles formulários que recebemos em muitas situações cotidianas, no qual devemos selecionar opções como sexualidade, profissão, estado civil... Por que será que não existe uma opção do tipo "não sei", "em fase de descoberta", "aprimorando a resposta", ou simplesmente "dane-se, isso te interessa?". Essa angustiante forma de viver(?) nos priva de experimentar, aproveitar, buscar, os sonhos que estão adormecidos em nós, e que só precisam de uma atenção a mais para serem despertados. Pena que o relógio do tempo não vem equipado com um despertador inteligente para realizar essa difícil tarefa. 

acorda e vai pra vida, menina!

Por Carolina Brito.

Seis e vinte da manhã. O despertador toca, me colocando novamente na minha eterna dúvida: quem sou eu? Qual o meu objetivo hoje? Qual o meu objetivo na próxima semana, mês, ano? Enquanto todo mundo me diz o quão nova estou e o tanto de oportunidades que vão surgir em minha vida, eu me pego pensando na falta de tempo que tenho pra pensar na minha vida simplesmente por estar vivendo a minha vida. Vivendo, ou sobrevivendo? Gosto de pensar que o muito de tempo que tenho pela frente servirá pra tirar essa angústia de não saber exatamente nada do que estou fazendo e mesmo assim seguindo em frente. Fazendo o que tem que ser feito para um dia poder viver bem comigo mesma - sobrevivência temporária. Mas, e quando eu terminar, serei feliz? Será que até lá eu vou provar da felicidade de me achar em algo, de ser alguém? Aos 3, minha certeza era a minha sempre-bem-vestida-e-penteada barbie. Aos 7, os desenhos do canal cultura que passariam às 15h, quando eu terminasse de fazer minha lição de casa. Aos 14, o meu primeiro amor, que, para mim, duraria pra sempre (risos). Aos 16, universidade. E as provas do colégio. E os simulados. E as isoladas. Mas só uma responsabilidade: passar no vestibular, que, apesar de não ser nada fácil - minhas visitas à psicóloga garantem isso -, era um objetivo concreto, sabe? E hoje, beirando a maioridade, minha única certeza é que eu não tenho certeza mais de nada, se eu tô fazendo bem, se eu tô fazendo certo. Quero de volta a segurança que tive durante toda minha vida.