© Foto de René Burri. Henri Cartier-Bresson, na 5th Avenue. Nova York, 1959.
Identidade.
Conjunto das características próprias e exclusivas de um indivíduo (Dicionário Houaiss).
Seriam a essência de um indivíduo ou somos um compartimento oco a ser preenchido durante a nossa existência? E de que maneira nos (re)conhecemos?
Talvez a essência seja um produto de fábrica; os seus componentes, por sua vez, são construídos por diferentes fatores que, por alguma razão, alteram o certificado de garantia.
Analisando nosso modo de viver, percebo que criamos personagens secretas no inconsciente - alter egos - que ajudam a nos definir periodicamente. Porém, a velocidade com que mudamos as nossas referências é cada vez mais angustiante, na medida em que recebemos informações de todos os lugares, de todas as formas, sem um aviso prévio das contraindicações desse processo globalizante.
Diante dessa constante mudança de referências, (não posso me referir à sociedade oriental por ser leiga nesse quesito), em relação ao lifestyle da vida ocidental, não são permitidos questionamentos, hesitações, dúvidas. Apenas certezas e respostas, mesmo que não sejam concretas. Não nos permitem experimentar todas as nossas potencialidades, possíveis habilidades que pudessem ser desenvolvidas se houvesse orientação, acompanhamento. E em restritos casos, quando há uma certa ajuda, falta-nos tempo para aprimorar nossas qualidades, identificar nossas deficiências e, por fim, encontrar um caminho de equilíbrio entre essas duas forças.
Em consonância com esse movimento, existem as (malditas) expectativas; de nossos pais, da sociedade, e a pior delas, de nós mesmos. A cobrança exaustiva em vencer, ser o melhor, inovar, ter sucesso, o quanto antes, nos coloca numa situação, muitas vezes, sem saída, sem solução. A nossa identidade se perde nesse processo. Os tais alter egos não servem apenas como referências, mas se tornam deuses inalcançáveis através dos quais só nos resta segui-los e curtir seus passos nos Facebooks, Instagrams, Twitters e outros que virão nessa era.
Viramos apenas espectadores que aplaudem os momentos fotografáveis(?) dessas personalidades?
Onde se perdeu a busca pelos nossos próprios momentos dignos de serem fotografados e aplaudidos por nós mesmos?
É tão fácil nos escondermos atrás de fotos sorridentes, de títulos alcançados, de longos cabelos hidratados, de roupas exclusivas, de estereótipos que acabamos adotando ao longo da autoconstrução. Procuramos nos modelar, definir um grupo ao qual nos encaixamos. E se não me encaixo em lugar nenhum? Ou se me encaixo em diferentes lugares? O mais preocupante é a forma como descobrimos o lugar ao qual pertencemos.
É verdade que observar o outro, se relacionar com diferentes culturas e personalidades é fundamental para qualquer pessoa. Mas, talvez, estamos nos debruçando demais na janela do vizinho pra dar uma olhadinha e até julgar o que se revela em seu interior e esquecemos de olhar com a mesma atenção para dentro de nossa janela.
O (alter)conhecimento impera às custas de um esquecimento inconsciente(?), preferível(?) do (auto)conhecimento.