quinta-feira, 13 de setembro de 2012

"O tempo não para, não para."

Por Tatiana Callado.





Já dizia o nosso querido Cazuza, verbalizando a mais óbvia e perturbadora das verdades; o tempo da vida não para, a urgência nos persegue, assim como a incerteza e a insegurança de nossas escolhas, como também a inconsistência de nossas atitudes, a fadiga da rotina, a exposição das nossas fraquezas, a (im)possibilidade de construir e descobrir o seu ser. Essas constatações fazem parte de uma série de questionamentos que quase todo ser humano realiza durante a sua existência, cada qual no seu devido momento, como exemplo, a tal crise da meia-idade que geralmente se revela para os quase cinquentões (que minha mãe não leia isso jamais!). A sensação do envelhecer se evidencia de forma tão concreta, capaz de promover reflexões as mais angustiantes possíveis, de tal maneira que você se questiona se é isso mesmo que gostaria de ser, de ter feito, de não ter feito; e se a sua resposta for aquela que tu não gostarias de descobrir, a crise vira de identidade. Como não cheguei nesse estágio da minha existência, desconheço essa angústia desvairada, mas passo a sentir uma sensação de inquietação, que nos meus "um pouco mais de quinze anos" jamais havia percebido, embora agora nos "quase vinte anos" sinto gradativamente, à medida que minhas olheiras se escurecem. Uma crise. Silenciosa, por não se revelar fisicamente. Perturbadora, por se revelar intimamente. Silenciosa crise perturbadora, que se fosse pintada, seria retratada pelo grito mais intrigante de Munch, uma obra-prima em que não se ouve nada, apenas se sente. O paradoxo criado pela liberdade versus responsabilidade cria um vazio dentro de nós que pulsa a todo instante, um vazio que precisa ser completado por que a sociedade (não) pede, nos obriga a preenchê-lo, mas de quê? É analogicamente como preencher um daqueles formulários que recebemos em muitas situações cotidianas, no qual devemos selecionar opções como sexualidade, profissão, estado civil... Por que será que não existe uma opção do tipo "não sei", "em fase de descoberta", "aprimorando a resposta", ou simplesmente "dane-se, isso te interessa?". Essa angustiante forma de viver(?) nos priva de experimentar, aproveitar, buscar, os sonhos que estão adormecidos em nós, e que só precisam de uma atenção a mais para serem despertados. Pena que o relógio do tempo não vem equipado com um despertador inteligente para realizar essa difícil tarefa. 

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