Por Tatiana Callado.
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Arquivo Pessoal |
O que será que mais nos fascina? O diferente, o inusitado, o exclusivo? Por quê?
Rostos sorrindo, improvisando caretas, com tinta na cara, palavras pelo corpo, riscos aleatórios, transbordando felicidade... Será?
Nós, jovens, cada vez mais, procuramos experiências que marquem nossas vidas para nos autoafirmar com o título de ser um jovem que curte a vida, portanto quanto mais incrível, mais exclusivo, mais diferenciado for o tal momento vivenciado, mais nós seremos reconhecidos e respeitados em nosso cargo, de ser um jovem. As redes sociais contribuem para a valorização desse lifestyle que já se transforma em um fenômeno social impactante na vida daqueles que estão ingressando na vida adulta. De certa forma, há uma corrida armamentista em busca de uma glamourização excessiva da vida social e pessoal, na qual nossas armas representam os Instagrams, os Facebooks e os alvos são os nossos pseudoamigos. Se pensarmos bem, não estou correndo muito risco ao tentar fazer uma analogia com um fato da Guerra Fria, na medida em que vivemos em uma guerra silenciosa, sem que haja um confronto direto, porém nos enfrentamos a cada foto que publicamos, a cada frase que postamos, em busca de míseros corações ou curtidas que, aparentemente, representam a nossa aceitação mediante a sociedade, que nos valida como cumpridor do papel de ser jovem. Além disso, não somos simples jovens, somos jovens permanentemente felizes, com mais de mil amigos que nos "amam", com muita grana pra gastar, com muitas festas para aproveitar, com muita sede de viver. Sim, essa última parte é verdade mesmo. Geralmente, nós somos ávidos para vivermos intensamente. No entanto, será que realmente somos aquilo que transmitimos nas redes sociais? Por que precisamos mostrar o quanto somos realizados profissional e pessoalmente, o quanto temos dinheiro para consumir artigos únicos, o quanto somos especiais por frequentar eventos badalados, ou seja, por que procuramos compartilhar inteiramente nossa vida em mundo intocável, virtual, que pouco a pouco começa a sobrepor a realidade? Levantei essa questão no momento em que estava presente numa festa na qual as pessoas precisavam pintar seus rostos para serem reconhecidos em meio à multidão através de uma luz negra. Essa experiência me chamou a atenção, já que pode analogicamente representar a nossa realidade, isto é, precisamos nos pintar nas redes sociais para dizermos que existimos, que curtimos a vida, para que nos reconheçam. O que me intriga é que a luz que nos ilumina, que comprova a nossa existência, é negra.
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